14 de março de 2010

NARIZ EMPINADO
Amaro Vaz


Meu verso alegre, enfim se manifesta
E me leva a ousar novas tendências.
Deixar de lamentar tuas ausências
Será pra mim motivo de uma festa.

O peito era um canteiro de tristezas
Que eu regava com as tristes lágrimas.
Só escrevia nas saudosas páginas
De um livro feito à luz das incertezas.

Ao descobrir-me sem o meu passado
Confesso-me, um pouco atrapalhado
Porém, posso gritar que sou feliz.

Já posso ir e vir, sem o teu passo
A minha caminhada agora eu traço
Sou dono, enfim, do meu próprio nariz.

MÃOS
Amaro Vaz




Há mão de seda, há mão de pelúcia
Há mão que faz o bem, que faz o mal.
Há mão que põe o doce, que põe o sal
Há mão que é timidez, que é astúcia.


Há mão que apedreja, há mão que afaga
Há mão que é semente, que é chão.
Há mão que é sentimento, que é razão
Há mão que é antídoto, que é praga.


Há mão que é agressão, que é carícia.
Há mão que é direção, que é malícia
Há mão que é treva, mão que é luz.


Há mão que é imensa que é pequena
Há mão que, com prazer, recria a cena.
Da mão que fez o prego e fez a cruz.

MÃE GENTILEZA
Amaro Vaz


Em meio a chuvas, muitas tempestades
Cordata, submissa e servil.
Caminha a nossa pátria mãe gentil
Pelas favelas das suas cidades.

Em se plantando, nela tudo dá!
Coisas bonitas, um povo varonil.
Até um presidente que não viu
Os picaretas do lado de cá.

Enquanto a Bolsa Escola faz a festa
Todos se calam e ninguém contesta
A honra cede espaço ao cinismo.

Os dias preguiçosos vão passando
E o povo, sem trabalho, esperando
Pela esmola do assistencialismo.

LUGARES AUSENTES
Amaro Vaz


Fez-se tormenta, o mar que eu navegava
Escuridão, a luz que em mim reluzia
Fez-se mais triste a minha alegria.
Fez-se ausência a paz que eu habitava.

Silenciou-se o verso, que chegava
Para trazer-me o sol de cada dia.
Não mais existe a tua companhia
Teus lindos versos, a tua poesia.

Tudo se fez escuro, noite densa
No exato instante em que a alma pensa
Que os dias seriam todos coloridos.

Minha emoção perdeu-se no caminho
Não tenho mais ninguém, ando sozinho
Lugares mórbidos, lugares perdidos.