31 de março de 2009


FIO DA NAVALHA
Amaro Vaz



Quando, eu me vejo “no fio da navalha”
Logo a cabeça, eu sinto fervilhar.
Dá uma vontade grande de pular
Dentro da causa. Na possível falha!


Tudo parece, ser contraditório
O medo cresce. Tudo é sinistro!
Chego, às vezes, me comparar à Cristo
Sendo julgado naquele auditório.


Muitas perguntas vêm. Tudo é treva!
Nenhuma luz. A vida me reserva
Um tempo feito, somente, pra entender.


É neste instante de profunda calma
Que alguma coisa vinda lá da alma
Mostra-me o chão. Então eu volto a viver!


FINGIMENTO

Amaro Vaz


Hoje os meus versos terão a cor da vida
Que a gente enfeita em noites natalinas.
Cansei do cheiro das naftalinas
De uma parede pelo mofo enegrecida.


Trancado assim em mim como um suicida
Eu morro em minhas mórbidas esquinas
Em relações humanas assassinas
Conduzo a minha dor enlouquecida.


O pensamento inventa sentimentos
Que, apenas, para preencher momentos
Corta profundo até chegar aos ossos.


Poetas, somos todos fingidores
Colhemos em vida alheia as suas dores
Como se os sofrimentos fossem nossos.


FINADOS
Amaro Vaz


Copos-de-leite enfeitam os corredores
Velas acesas, choram uma saudade.
Por que o homem tem a necessidade
De dedicar um dia às suas dores?


Por que a morte tanto lhe angustia?
Por que a morte tanto lhe amedronta?
Por que a mala ele não deixa pronta
Já que a viagem acontecerá um dia?


Chorou a vida e hoje chora a morte
Ao pobre homem não é dada a sorte
De conhecer, da morte, os seus mistérios.


Por isso vem chorar todos os anos
Suas angústias, os seus desenganos
Nas capelinhas de muitos cemitérios.


FIM DE TARDE
Amaro Vaz


Meu corpo esteve preso ao teu corpo
Como se fosse o visgo e o passarinho.
Como se fosse o anzol e o peixinho
Como se fosse um barco e o porto.


Assim ele passou uma tarde inteira
Para matar uma grande saudade.
Para viver nossa maior verdade:
O nosso amor não era brincadeira.


Vida maluca. Vida complicada
Altera a rota, e sem nos dizer nada
Põe o passado dentro do presente.


Vida serena. Vida abençoada!
Põe nossos sonhos na velha estrada
Que um dia abrigou os pés da gente.

FIM DE FOSSA
Amaro vaz


Enquanto o disco de Ana Carolina!
Me faz lembrar do amor que nos uniu.
Vou ao passado. É primeiro de abril!
O dia da mentira. Que triste sina!


Segunda-feira morna. Nada me anima!
Me sinto um cão sem dono. O meu canil!
Alguém mandou pra puta que o pariu!
Nele cagou. Jogou terra por cima!


Meu verso hoje é triste, é verso pobre!
Perdeu o jeito pomposo, às vezes nobre
Desceu ladeira abaixo, foi ao chão.


Somente hoje hoje eu choro. Nunca mais!
Em tempo algum. Never. Nunca. Jamais!
Irão brincar com o meu coração.


FERRÃO DE ABELHA

Amaro Vaz


Prefiro o sofrimento mais profundo
A ter que estar em suas algazarras.
Não quero ser motivo dessas farras
Que enfeitam o seu triste submundo.


Quero cuidar do meu próprio jardim
Colher a flor, que eu mesmo semeei.
Ter a certeza, de que não mais verei
Sua tatuagem impregnada em mim.


Cansei de ser um ator coadjuvante
O seu laranja, a escada rolante
Vou representar agora outro papel.


Pode esquecer essas velhas picuinhas
Numa colméia com duas rainhas
As operárias não voam um doce mel.

29 de março de 2009

FELIZ GESTO VELHO
Amaro Vaz


Ano Novo é sempre assim: Novos caminhos,
Novos sonhos, promessas de mudanças.
Renovadas todas as nossas esperanças
Surgem rosas, onde antes havia espinhos.


Ano Novo é recomeço. É simplesmente
A certeza de que tudo irá mudar.
Seja o gesto. Seja a visão. Seja o olhar!
Novo fruto há de vir dessa semente.


Inocente, o sentimento irmandade.
Nossa alma, nossa mente, a tudo invade
Transformando o ser humano em benfeitor.


Tudo dura poucos dias. Triste ironia!
Mal o mês de janeiro se inicia
Voltam o medo, a guerra, o ódio, o rancor.
FÉ CEGA
Amaro Vaz


Trago de volta as velhas confidências
Querendo crer, que tudo irá mudar.
Eu boto os sonhos velhos, pra esquentar
Visto as roupas das velhas inocências.

Sou um menino, que não se viu crescer
Que no trabalho plantou suas verdades.
Que nunca disse, ter necessidades
Que viveu a vida, apenas, por viver.

Tive momentos bons. Mas tive tantos...
Momentos tristes, muitos desencantos
Que, sempre, penso: Tudo tem um fim!

Hoje ao ver minha mulher, meus filhos
Todos seguindo meus passos,os trilhos.
Mais acredito: Deus cuidou de mim!

Amaro Vaz


Dizem que tudo na vida é relativo
O tempo, o sentimento, o que temos.
É relativo até o que entendemos
Seja pleno, seja definitivo.

Quem fez a regra foi bem taxativo:
É relativo até o que perdemos.
É relativo o mundo em que vivemos
Nem mesmo a morte é fato conclusivo.

Questionamentos... Só questionamentos!
São relativos os Dez Mandamentos?
A criação do mundo é relativa?

Hoje eu vi uma rosa se abrindo
Coisa mais linda. A vida me sorrindo!
Obra de Deus, portanto conclusiva!

23 de março de 2009

FARDOS
Amaro Vaz


Ao descobrir que o fardo era pesado
Tratou de desfazer de alguns valores.
Lançou estrada afora alguns pudores
Algumas ilusões jogou de lado.

Assim vivem o presente e o passado
Ambos se enxergam como perdedores.
Às vezes eles se chamam de traidores
E isso torna o que é fácil, complicado.

Não há ninguém, que seja retilíneo
Que algumas vezes não teve o declínio
De achar que o passado é mais bonito.

Triste ironia. A vida é um cinema!
Quando me vejo diante dessa cena
Eu nada faço, apenas, canto e grito!
FALAR DE AMOR
Amaro Vaz

Falar de amor me deixa constrangido
Porque meu grande amor não me pertence.
Embora apaixonado, ainda, pense
Que eu possa ser teu caso proibido.

Falar deste amor, ora bandido
É algo tão fugaz, quanto circense.
Se a lágrima me dói, o riso vence
E rir da própria dor é permitido.

Como explicar ao amor o sentimento
Que espera a vinda de um novo tempo
Para viver feliz e sem barreiras?

Falar de amor é isso, simplesmente
Acreditar que um dia. Lá na frente...
Nossas paixões vão se entregar inteiras.
FALAR DE AMOR II
Amaro Vaz

Mamãe me ensinou a amar, amando
Porque ela entendia que o amor
É como, no jardim, a linda flor
Que a nossa emoção vai cultivando.

Eu amo amar o amor mais engraçado
Não tenho medo de amar e de ser bobo
Quem ama a fonte, também ama o lodo
Ama o correto e ama, ainda, o errado.

Dizem que amar é um verbo intransitivo
Por isso eu vivo o amor, que mais preciso
O amor da mãe, mulher, esposa, amiga.

Porque o amor é assim como a fogueira
Queima o egoísmo e a chaga inteira
Pra enfumaçar de amor a nossa vida.
FÁCIL DIZER
Amaro Vaz


Fácil dizer “te amo”
Quando as coisas vão bem...
Se a lua aparece inteira e serena
Diante de nossos olhares apaixonados.
Fácil dizer “te amo”
Quando nada tememos na vida
Se a confiança é uma conquista verdadeira
Que promete-nos uma tranqüilidade futura
E, seguramente, duradoura.
Fácil dizer “te amo”
Quando as crianças podem brincar
Sob o olhar atento de uma babá.
Se - no banco - nossa conta conjunta
Oferece-nos a oportunidade sonhada: férias na Europa...
Fácil dizer “te amo”
Quando a geladeira está cheia
E o carro à disposição na garagem
Para os tradicionais passeios
Ao clube de campo preferido.
Fácil dizer “te amo”
Quando me olhas com essa carinha de anjo
E - bem de mansinho- te despes de todas as preocupações
De um dia tumultuado - cansativo e chuvoso.
Quando o que os outros pensam e dizem sobre nós
É capaz de levar-nos a gostosas gargalhadas.
Fácil dizer “te amo”
Quando não nos interrompem os passos...
Quando não nos cegam os olhos...
Quando não nos calam a voz...
Caso contrário...
Deixa-me no meu canto e busques acomodar-te no teu canto.
Faças e deixa-me fazer e cometer as minhas próprias burrices.
Para que o nosso amor - um dia tão intenso -
TENHA PELO MENOS O DIREITO DE MORRER EM PAZ.
FACA DO TEMPO
Amaro Vaz
O passado é uma faca afiada
Fere fundo em nossa carne, vai ao osso.
No mais velho faz o tempo em que era moço
Parecer brincadeira, uma piada.

Eu que tive uma vida desregrada
Sou forçado a sentir sabor insosso.
Uma corda entrelaçada no pescoço
Vem mostrar uma certeza: Somos nada!

Minha mente já não tem o raciocínio
Minhas mãos já perderam o domínio
Sobre as coisas que eu tento segurar.

Foi-se o tempo em que eu era um colosso
Hoje eu tenho que vender o meu almoço
Para ter assegurado o meu jantar.

19 de março de 2009

FACA AFIADA
Amaro Vaz


Cravou-me uma faca em pleno peito
Feriu profundo o meu coração.
Bateu com força na recordação
Falou-me que eu não tinha o direito.


De impedir que crescesse perfeito
No ventre, o fruto de uma união.
A insensatez mudou a direção
Agora é tarde, já não tem mais jeito.


Como fazer para mudar a história?
Como apagar as sombras da memória?
Me poupe dessa dor tão violenta.


Não quero mais viver constantemente
Preso ao passado, preso à semente
Que dói, machuca, fere, atormenta.

EXPLICITUDES
Amaro Vaz


Rabiscou, com tua boca, o meu corpo
Com as mãos fez desenhos no meu ventre.
Fez orvalhos de suor num beijo quente
Ancorou as tuas nádegas no meu porto.

Cavalgou minhas coxas sutilmente
Com as mãos entrelaçou-me o pescoço.
Das costelas apalpou osso por osso
Não parou um só instante, foi freqüente.

Abusou da minha tola ingenuidade
Dedilhou a minha masculinidade
Conduziu e permitiu-se conduzida.

Explodiu num rodopio tão frenético
De um jeito, vou dizer, não muito estético
E gritou que foi total e bem comida!

EXPLICITUDE
Amaro Vaz


Eu quero aproveitar esses momentos
De plena alegria e bom-humor
Para escrever no sexo do amor
Uns novos versos e uns pensamentos.

Vou escrever “tesão, paixão, delícia”.
Com as cores do amor e da ternura
Só pra não ter problemas com a censura
E nem virar um caso de polícia.

Porque o amor em tempos agitados
Como o que hoje estamos habituados
Já não é visto como amor somente.

Há sempre um chato (a) e um (a) calhorda
Que se imagina reinventando a roda
Ao ver num amor em chamas, algo indecente.

ESTATUTO DO AMOR PRESENTE
Amaro Vaz


Adoro, quando pega em minha mão
Olha-me nos olhos e diz que me ama.
Quando nas noites frias, sua chama
Transforma em brasa o meu coração.

Adoro, quando andamos pelas ruas
Sem hora pra alcançar nosso destino.
Adoro, quando diz que sou um menino
Que vive burilando as coisas suas.

Adoro, ainda, quando amanhecemos
E recomeçamos, a noite que tivemos
Pra não perdermos este bom costume.

Adoro tudo o que há dentro de nós
Adoro o seu beijo, adoro a sua voz
E adoro amor o seu natural perfume.

16 de março de 2009


ESPERANÇA
Amaro Vaz


Fim de ano. Fim de caso. Fim de rota
Está na hora de uma nova fantasia.
Chutar o balde. Reinventar o dia
Morrer de rir é o que mais importa.

Fim de ano. Fim de tudo. Recomeço
E vamos nós. A sorte está lançada!
Quem nada cultivou, não colhe nada.
Quem quer se oferecer, que dê seu preço.

Fim de ano. Gira a roleta. Lança o dado.
O que passou, já é fato consumado.
Novos passos quer a vida caminhar.

Fim de ano. Sê bem-vindo. Sê bem feito
Enquanto vida houver, dá-se um jeito
É preciso um novo tempo semear.

ESCUROS SENTIMENTOS
Amaro Vaz

Ante o silêncio maldito e audacioso
Que a tua ausência impõe ao sentimento
Cartas te escrevo, pra gastar o tempo
Enquanto dorme o medo preguiçoso.

Não tenho nada além de muitas dores
Tudo é tristeza, faz tempo não sorrio
Até o som do meu violão está vazio
E o arco-íris desbotou, perdeu as cores.

Eu sou prisioneiro de um amor nefasto
Meu mundo solidão é imenso e vasto
Eu nada quero e nada mais procuro.

Para me acostumar com essas mazelas
Tranquei a porta, fechei todas as janelas
Na frente dos meus olhos fiz um muro.

ESCURA PAISAGEM
Amaro Vaz

Bateu a porta de nós dois, fugiu
Pela estrada do esquecimento.
Nenhuma chance deu ao sentimento
Bateu a porta de nós dois, partiu.

Partiu, como se o amor fosse apenas
Uma ferida exposta, um fundo corte.
Bateu a porta de nós dois, a morte
Deixando, em mim, essas tristes cenas:

Um peito vazio, um coração sofrido
E na garganta um grito revestido
De obediência, extrema, à solidão.

Deixou, ainda, a dor de uma saudade
Que impõe limites à felicidade
Quando, acende a luz da escuridão.

ELAS POR ELE
Amaro Vaz


Eu creio em tudo e acredito em todos:
Os cães que mordem, sendo cães que latem
Em mãos que afagam, sendo mãos que batem
Em carneirinhos, que escondem lobos.

Eu creio no céu, mesmo vivendo o inferno
Em tudo eu creio, em tudo eu acredito.
Creio existir silêncio, dentro de um grito
Creio no pulso forte, no abraço terno.

Eu creio no ódio, eu creio, até, no amor
Creio em Deus, o nosso pai, o criador
No livre arbítrio, faça-o-que-quiser.

E por crer, em tudo e todos, simplesmente
É que, hoje, sofro a dor, inconseqüente
De acreditar no amor de uma mulher.

11 de março de 2009


DISFARCE
Amaro Vaz


Envolto por um sol, que brilha intenso
Meu dia segue contente, preguiçoso
O sonho, o sorriso, a paz, tudo é novo
Somente em coisas boas agora eu penso.

Não mais quero o colírio, o antigo lenço
A sombra do cajueiro bem viçoso.
Chorar constantemente é perigoso
Causa doença, inventa o hipertenso.

Quando a gente se ama , a gente enxerga
Que nada construímos, quando se herda
De alguém a nossa verdadeira face.

A vida é um imenso espelho cristalino
Que faz a gente se sentir menino
Sem a necessidade de um disfarce.