27 de novembro de 2009


SENHOR DAS ESTRELAS
Amaro Vaz


Tenho um amigo, que se diz amante
Das estrelinhas que enfeitam o céu.
Vive fazendo aviõezinhos de papel
Para poder ir visitá-las no horizonte.

Ele consegue, com elas, se entender
E elas compreendem o que ele diz.
Não é loucura, é só um estar-feliz
Que faz este milagre acontecer.

Confesso, eu pensei inicialmente
Que ele fosse uma estrela cadente
Humanizada, só para me enganar.

Que tolo eu fui. Ele é apenas
Um pássaro-humano e sem penas
Capaz da louca aventura do voar.

Dedicada ao amigo-irmão Jenário de Fátima

26 de novembro de 2009

REENCONTRO
Amaro Vaz


Parece que foi ontem, eu reclamava
Resignado, dizia que o amor
O nosso amor, rimava ele com a dor
Na contramão do sonho caminhava.

Tudo mudou, ao aprender, crescemos
Voltando a crer, sabíamos ia dar certo
Depois de um tempo corroído, incerto
Nós merecíamos, viver dias serenos.

Plantamos, no quintal, algumas flores
E na mesma cova, colocamos as dores
Pensamos: Essa mistura vai dar certo.

Porque o amor, que se deseja inteiro
Não sobrevive a dor, o tempo inteiro
Na dunas tristes de um cruel deserto.

VERSOS OMISSOS
Amaro Vaz


Eu me descubro em mares agitados
Feito um sarrafo de toco, num remanso
Feito um pássaro, sôfrego e manso
Ante os gatos, que vivem nos telhados.

Mais eu fujo, mais e mais me entranho
Mais, eu me misturo à tempestade
A minha alma perde a sensibilidade
E ao espelho, eu me vejo um estranho.

O que será de mim? Eu me pergunto...
A inconsciência procura um outro assunto
Para não ter, que me dar explicações.

Prefiro a morte. Uma ...duas...três
A ter que transformar em insensatez
Minhas idéias e as minhas emoções.
VERSO FERIDO
Amaro vaz


Ferido o verso, ferida a inspiração
A alegria desce morro abaixo
A luz, incandescente, perde o facho
O velho sim, de ontem, vira um não.

Ferido o verso, todas as belezas
Das madrugadas livres e ao luar
Não querem, mais o canto enfeitar
Porque, a noite encheu-se de incertezas.

Ferido o verso, ferido, também, sou
Abandonado e triste – não sobrou -
Ninguém interessado em meus lamentos.

Ferido o verso e ferida a poesia
O fim do encanto transforma a utopia
Num carrossel de estranhos sentimentos.

O CIRCO
Amaro Vaz


Hoje eu vou reinventar os sonhos
Montar um circo nesse meu soneto
Usar todo o meu tempo obsoleto
Pra ser criança e pra ser risonho.

Vou ser palhaço e ser o trapezista
Vender pipocas e algodão-doce
Como, se uma criancinha fosse
Este velhinho metido a artista.

Eu já me vejo... Um narigão vermelho
Com uma bermuda abaixo do joelho
Fazendo confusões e trapalhadas.

Enquanto sentadinhas nas cadeiras
As criancinhas, após as brincadeiras
Do picadeiro eu verei, dando risadas.

23 de novembro de 2009


UM DIA DE PAZ E SOL
Amaro Vaz


Bendito seja o dia que acontece
Na minha casa e na minha vida
Ele é o suor dessa gostosa lida
A fé que reafirma a minha prece.

Nele o sol tem uma cor vermelha
E azul do céu é límpido e cristalino
Como o olhar medroso de um menino
Que acompanha o vôo de uma abelha.

Assim, eu vejo a noite se achegando
E, mansamente, a vejo expulsando
O sol que ilumina a terna alegria.

Por isso, num pedaço de papel.
Escrevo: Obrigado, Pai do Céu
Por dar-me, de presente, este dia.
DELÍRIOS
Amaro Vaz


Abro a janela pra ver o domingo
Que se faz morno, sob um sol intenso
Na triste segunda-feira eu já penso
E posso vê-la, para mim, sorrindo.

Pra começar uma nova semana
Decreto, doravante, a quinta-feira.
Porque, ela antecede a sexta-feira
O dia dedicado aos pés-de-cana.

Ouvisse o meu patrão tais heresias
Talvez me desse de presente uns dias
Pra eu poder, com a preguiça passear.

Morrer de rir, “com o nada fazer”
Até a ingrata realidade vir dizer:
Esquece esse sonho e vem trabalhar.

18 de novembro de 2009

NASCER POETA
Amaro Vaz


Escrevo meus versos poeta menina
Sentindo uma dor que nunca sofri.
Escrevo ao que chora, escrevo ao que ri
A vida lá fora conduz minha sina.

Mil vezes sorrindo chorei uma rima
Já noutras chorando, no entanto sorri.
Nas coisas da vida um dia entendi:
Na dor se aprende na dor se ensina.

Se a rima anda certa o passo anda torto
O vôo é rasteiro se o mar é meu porto
Navego as alturas por contradição.

Por isso aceito a alcunha de audaz
Que o verso que eu faço a vida é quem faz
Apenas lhe empresto a minha emoção.

Poema-resposta dedicado à irmãzinha poeta
Ana Barreto
MENTIRAS
Amaro Vaz


Te amei, te amei, te amei... tanto eu te amei!
Que tempo não sobrou pra que eu me amasse.
Diante de um espelho a minha face
Era um retrato teu. Agora eu sei!

Te amei, te amei, te amei... Por que te amei?
Se em troca tu me deste o teu disfarce
Por dentro nada tinhas, que eu gostasse
Te amei, te amei, te amei... Por isso errei!

Errei, quando deixei que os teus passos
Seguissem a direção dos meus abraços
Onde constantemente adormecias.

Errei, porque não soube me conter
E agora luto para te esquecer
Te amei, te amei, te amei... Mas tu mentias!

LIMPANDO A ALMA
Amaro Vaz


Você pediu-me, pra eu limpar minha alma
Como se ela fosse o chão de um banheiro
Como se limpa o corpo sob o chuveiro
Você pediu-me, pra eu limpar minha alma.

Pedi um tempo, pra revirar o dentro
E escolher, o que abrigar em mim
Limpar a alma é descartar, enfim...
Os entulhos que lotam o sentimento.

Foi só abrir a porta e lá chegando...
O que não me agradava, eu ia jogando
Num monte de entulhos do passado.

Ao deparar-me com as velhas cicatrizes
Joguei no monte, uma por uma, as infelizes
Estava eu, de alma limpa, enfim curado.
LIMITES
Amaro Vaz


Hoje eu conheço todos os limites
Todas as farsas que a vida oferece
Qual uma aranha que cuidadosa tece
As suas armadilhas, seus convites.

Não sou de jogar fora meus palpites
Por causa do fermento o bolo cresce
A lágrima sabe o olho que a merece
Por isso choram os alegres e os tristes.

Não sou de dar exemplos aos mais novos
Mesmo na minha idade eu piso em ovos
O tempo me ensinou a ser tolerante.

Não sou mais uma criança, um menino
Por isso eu só cavalgo o meu destino
Usando como rédea um barbante.

LIMITE
Amaro Vaz


De pensamentos soltos faço a vida
Não deixo nada, acontecer em vão.
Eu vivo o sim, e vivo inteiro o não
Pois reconheço, ser difícil a lida.

Cabem no bolso as preocupações
Tenho deveres e também direitos.
No ser humano não vejo defeitos
Apenas choques de interpretações.

Só existe o certo, só existe o errado
Porque o limite, que foi desenhado
Só contemplou as coisas da razão.

Fosse mantido o imaginário traço
Creio, que haveria um maior espaço
Pra coisas frágeis, que vêm do coração.

LIBERDADE AINDA QUE EM FATIAS
Amaro Vaz


Quando a mão desprovida, pequenina
Da criança que não soube uma escola.
Faz sinal me pedindo uma esmola
Traz-me do Rio de Janeiro, uma chacina.

Nos jornais, em cada banca, em cada esquina
A comoção se fez presente como agora.
Me dói no peito a mesma dor de outrora
Porque uma dor assim jamais termina.

Porque fui me lembrar desta tragédia?
Talvez seja, porque anda solta a rédea
Porque a Justiça é falha, porque tarda.

Bandidos vão e vêm. Isso é normal!
O que me causa medo e me faz mal
É quando eles se escondem atrás da farda.

5 de novembro de 2009


LEMBRANÇAS III
Amaro vaz


Não me pergunte se já amei um dia
Se eu já tive paixões plenas, ardentes.
Se eu já chorei um mar de mil enchentes
Se eu já sorrri um oceano de alegria.

Eu tive a paz como a maior garantia
De que meus dias não seriam urgentes.
Porque um rio vê seus afluentes
Qual provedores de uma alma vazia.

Amei como quem ama o amor eterno
Tive momentos céu. Tempos inferno!
Tive momentos fama. Tive o chão!

Tive a dor mais forte, mais profunda
Que ainda hoje dói, porque inunda
De tristes lembranças o meu coração.

LEMBRANÇAS II
Amaro Vaz


Manhã de chuva intensa, sol distante
Como é distante aquele amor tão nosso.
Procuro não pensar, mas sei..não posso
A dor da ausência, ainda, me dói bastante.

Tua foto é minha única atenuante
Eu sinto a culpa, é grande o remorso
Por mais que eu fuja, menos eu me esforço
Mais eu me vejo em meu caminho errante.

Me lembro agora daquela noite calma
Que ao vavegar teu corpo, a tua alma
Tiraste os dois pés do chão num vôo solo.

Me lembro bem, dormi como uma criança
Levando na memória, na lembrança
O cheiro de perfume do teu colo.
LEMBRANÇAS I
Amaro Vaz


A sala de jantar cheia de flores
Que se espalharam ao chão depois que o vento.
Entrou sem permissão neste aposento
Beijando sem preguiça as minhas dores.

No quarto entre os lençóis dois cobertores
Me fazem crer que o meu maior momento
Não permitiu que a luz do esquecimento
Pintasse o futuro de outras cores.

Ao lado de uma velha penteadeira
Ao não ser devolvida à cristaleira
Dormia a taça com o vinho teu.

Abri minha janela, bem discreto
Deitei em minha cama olhando o teto
Só ai eu me dei conta. Ela morreu!
LÁGRIMAS NOTURNAS
Amaro Vaz


Entre quatro paredes, as noites passo
Procurando num teto enegrecido.
Um motivo, um sinal, qualquer sentido
Que devolva a certeza de um abraço.

Quando penso em você, vem o cansaço
E ao sono eu me entrego aborrecido.
Já me sinto um prisioneiro, um bandido
Um animal que alguém pegou no laço.

Nada tenho, que me traga a alegria
Sua ausência é a página vazia
De um livro apagado e sem páginas...

Só me resta ouvir a voz de um triste pranto
Que se veste de pseudo-acalanto
Ao me ver derramar as minhas lágrimas.

LÁGRIMAS ARTIFICIAIS
Amaro Vaz

Não mais quero chorar, não quero mais
Deixar que essa tristeza me domine
Que o verbo amar então nos aproxime
Que eu quero os teus sentires mais reais.

Se eu choro por coisinhas tão banais
A mente se acorrenta, se deprime
A culpa, finalmente, se redime
Porque os teus pecados são normais.

Fugir das coisas, que em nós desenhamos
Depois que em nossos corpos tatuamos
O máximo prazer que nos habita.

É o mesmo que voar sobre precipícios
Fantasiar os mais tolos artifícios
É ser um pouco ator, um louco artista.