21 de fevereiro de 2009


LIMPANDO AS GAVETAS
Amaro Vaz


Tio Geraldo amava os passarinhos
Passava horas cuidando das gaiolas
Servia-lhes laranjas e carambolas
Alpiste, canjiquinha, e até beijinhos.

A sua filha Heloisa era quem entrava
No viveiro que existia lá no quintal
Toda as manhãs era é o mesmo ritual:
Daqueles passarinhos, ela cuidava.

Lembro-me bem... Era outubro, dia dez
Vi Heloisa cair junto aos meus pés
Dizendo: "Primo, meu pai me deu três tiros".

Ao abraçá-la senti que algo escorria
Era o seu sangue... Menino, não sabia
Que eu assistia os seus últimos suspiros.
CULPA
Amaro Vaz


Passam os dias, os meses e os anos
Numa sequência numérica infindável.
Sem que eu possa ter ainda confiável
Aquele amor que eu tinha em meus planos.


Quando os desejos causam desenganos
A vida a dois se torna inabitável.
E aquele amor que era confiável
Se esvai pelo esgoto, pelos canos.


Não quero mais falar de amor antigo
O peito ainda chora. É dolorido!
Um coração que sabe-se enganado.


Não me pergunte como estou vivendo
Porque vou responder: Quase morrendo!
Principalmente por me saber culpado.

19 de fevereiro de 2009


CRESCER
Amaro Vaz


Não apague o meu verso arruaceiro
Que o menino ainda mora em mim.
Quer brincar, quer correr sentir enfim
Que o tempo se fez seu companheiro.

Não apague o meu verso aventureiro
A infância não quer sair de mim.
O moleque não quer viver o fim
Do momento de seu sonhar primeiro.

As lembranças são coisas escondidas
Nos armários das causas já vividas
Na memória que nunca envelheceu.

Pois o sonho é fugaz e delinqüente
Quando dorme despreocupadamente
No adulto que ainda não cresceu.

CRENDICES
Amaro Vaz


Da vez primeira que a poesia aflorou
Pensei comigo: Devo estar doente!
De tanto ouvir dizer, poeta e gente
Num mesmo barco Deus não colocou.

Mesmo descrente de tais heresias
Ainda assim eu relutei bastante.
Deixe palavras soltas numa estante
Fugi... Abandonei tais ousadias!

Eu fui medroso. Hoje eu reconheço!
Pelo silêncio, paguei um alto preço
Perdi textos inteiros e sonetos.

Perdi palavras, muitas coisas minhas
Até descobrir, que eram ladainhas
Essas crendices do tempo dos guetos.

17 de fevereiro de 2009


CONSTATAÇÃO
Amaro Vaz


Estou chegando aos sessenta anos
Cinquenta e seis, para ser mais exato.
Sobra tarimba, mas me falta o tato
Para entender meus muitos desenganos.

Se quando jovem eu não fazia planos
Depois de adulto eu só faço trato.
Importa menos o feijão no prato
Que os sentimentos que se fizeram insanos.

Um filho adulto já longe de casa
Um outro adolescente, em cuja asa
Eu tenho que voar sem ter limites.

Ninguém mais ouve a minha opinião
Porque ser velho é a constatação
Ninguém precisa de nossos palpites.

CONSOLO
Amaro Vaz


Qual folha morta que o vento balança
Sobre o gramado de uma jardim florido.
Qual filho ingrato no mundo perdido
Depois que crê não ser uma criança.

Qual uma menina que inda não alcança
Sobre o armário o brinquedo preferido.
Qual um beijo dado dentro do ouvido
Por entender que o coração alcança.

Assim é o homem, depois que envelhece
A tudo espera, mas nada acontece
Todos os dias se parecem tolos.

A sua vida é essa constante luta
Porque seu grito ninguém mais escuta
Nem mesmo a morte há de lhe dar consolo.

CONSELHOS
Amaro Vaz


Não guarde na garganta os devaneios
Permite aos teus cabelos outros ventos..
Não creias que as razões dos sentimentos
São frágeis como os teus grandes receios.

Não dormem nos vazios teus anseios
Nem frustram as perdições os teus contentos.
Abertos vão estar os teus sofrimentos
No coração que vive entre os teus seios.

Guardar em ti desejos descuidados
É como dar aos medos aprisionados
Uma duvidosa carta de alforria.

Não guarde nada em ti. Abre-te boca!
Que o pescoço não quer esta forca
Trançada entre a tristeza e a alegria.

CONSELHO TARDIO
Amaro Vaz


Soubesse o jovem como pode o tempo
Fazer milagres. Promover proezas!
Ele veria, na vida, mais belezas
Mais seriedade, menos sofrimento!

Soubesse, ainda, que o melhor momento
É o presente, cheio de incertezas!
Não temeria falsas correntezas
Só viveria ao sabor do vento.

Porque a vida só dá uma safra
Assim como a bonança vem e passa
Assim a tempestade acontece.

Por isso ao jovem deixo este recado:
Quem vive no futuro ou no passado
Só vê que errou, depois que envelhece.
CONFUSÕES ETÍLICAS
Amaro Vaz


Como se eu fosse um sarnento cão
Não me deixaste entrar na tua casa.
Ali eu vi, que já tinha a, própria, asa
Aquela moça que um dia dei a mão.


Ela mostrava um pedaço de pau
Falava coisas que eu não entendia.
Um desamor assim não conhecia
Se não me afasto, eu me dava mal.


Passei a noite, sentado na calçada
Tentando compreender essa charada
Que a vida colocou no meu caminho.


Quando o dia enfim amanheceu
Eu compreendi o que me aconteceu:
Tentei entrar na casa do vizinho.

CONFLITOS
Amaro Vaz


Navego a vida em plena calmaria
Sou brisa lenta que a tarde seduz.
No fim do túnel, sou aquela luz
Que dá ao sonho as feições do dia.

Sou transparência, simples alegria
Não é pesada essa minha cruz.
Eu tenho mão segura, que produz
Novas sementes como garantia.

O meu jardim é feito de arbustos
Que em noites altas podem causar sustos
Porque são feitos de desenhos tortos.

Só acham estranho este meu poema
As mentes sórdidas, já fora de cena
Os que não sabem a vida, pois são mortos.

CONFLITOS II
Amaro Vaz


Há entre nós um imenso abismo
Embora exista amor e tolerância
Embora exista afeto e arrogância
Embora exista vergonha e cinismo.

Há entre nós, eu sei, a sutileza
Alguma coisa que chama atenção
Um espécie de contradição
Qual sopa e farinha sobre a mesa.

Há entre nós um muro de concreto
Vivemos o distante e o perto
Vivemos o ódio, vivemos a paixão.

Porque há entre nós um só conceito:
Todo amor que se pretende perfeito
Não é amor. É apenas uma ilusão.
CONFISSÃO
Amaro Vaz


Não quero ser igual, nem diferente
Apenas quero ser o meu juiz.
Da vida serei, sempre, um aprendiz
Assim eu vou à luta. Vou em frente!


Eu nada faço, que seja ilícito
Sou meio tímido. Sou muito contido!
Com a minha dor eu tenho aprendido
Que ser ousado não é ser explícito.


Se alguma coisa existe atrás do muro
Irá dizer-me, um dia, o futuro
Se é coisa permitida ou proibida.


Independente do que possa vir
Peço desculpas, não vou resistir:
Vou mergulhar inteiro em sua vida.
CONFEITARIA
Amaro Vaz


Não pode o amor em pedaços
Ter um céu de brigadeiro
Se dentro do açucareiro
O vazio faz os espaços.


Assim também é na vida
De um casal em conflito.
Se há dente, não há palito
Se há fome, não há comida.


Falta o sonho recheado
Por um creme preparado
Com açúcar e com afeto.


Falta o amor verdadeiro
O alimento primeiro
O resto é puro dejeto.

16 de fevereiro de 2009

COLHEITA
Amaro Vaz



Quando em criança eu cultivava amores
Numa cabeça cheia de ilusões.
Ditava as regras, sem limitações
Todos os sonhos eram multicores.

Acreditava que os dissabores
Estavam sempre além dos meus portões.
Criança alguma vê que as emoções
De tempo em tempo mudam seus sabores.

Triste é saber que tudo tem um preço
Que as coisas, que ora vivo, eu as mereço
Que a dor, que ora sinto, é natural.

Triste é saber, que nada é eterno
Que a nossa vida é um grande inferno
Além do muro que cerca o quintal.

14 de fevereiro de 2009


CULTO À IGNORÂNCIA
Ludimila Bevilaqua


A beleza
Destreza,
Nobreza.
Ah, a beleza!!!!

Em que idade ela mora?
Namora?
Vai embora?
Consola!!

Passa.
E que bom que passa!
Assim, pode ser vista por dentro
Já que fora ela mora.

E lá do outro lado,
Bem do outro,
Ou de si mesma,
Lá está ela
Bela
Onde ninguém foi capaz de achar,
Nem mesmo de descobrir que existe
Ali
Bem ali
No avesso.
E por ser assim,
Do lado de fora também está.

Simplesmente.
Simples e na mente,
Somente
Semente
Sem mentir
Verdade
Ver a idade
Vaidade
Vai a idade
E que bom que vai!

Sai , então, de mim
Porque nunca em mim esteve
A pele, apele!
Perplexo , reflexo
Sem nexo?
Retrocesso.

Imagem
Ih, a margem!!
Imagine.
Reanime.
Passe.
Ultrapasse
E assim ,então, depois
E sempre
O parto:
Participe... sem partir!

Carangola - MG

O Sonhar Das Letras
Vânia Vianna


Enlouqueço em meu desejo insano...
Vou dormir contando mil letrinhas
Busco tuas rimas, em rimas minhas,
Adormeço em teu abraço meu sono!


Eu que contava um dormir sereno
Revirei-me na noite em meus “exatos”
Já não controlo nem governo meus atos,
Mesmo aquele que me parece pequeno!


Eu que pensei dormir minutos seguidos
Sem perder do sono segundos sequer,
Embalo no berço sonhos adormecidos!


Assim passo a noite enrolando a razão:
Consciência muda num canto qualquer...
Devaneio beijando a tua boca, então!

PLENITUDE
Ana Luiza (coisas de Ana)


Fiz de meu corpo o teu leito amanhecido,
Saciado dos desejos das tantas promessas,
Em vigília afaguei o cansaço dos sentidos,
E em mim a vida amanheceu sem pressa.

Em nós, sós, a lembrança das carícias plenas
Como se sempre houvéssemos habitado,
A intensidade da entrega em cada cena
Nos delírios do prazer, assumido e celebrado.

Momentos de nós dois se repetiram , extasiados
Na urgência febril de preenchermos um vazio
Que nos doía ao sabermos separados...

E foi tão lindo e de tanta intensidade,
Que ao relembrar eu sublimo essa saudade
Do nosso amor amado na primeira vez.

APRENDI
Que não sei quase nada
Que sempre precisarei aprender
Que a vida é muito curta
E que não há tempo a perder.

PERCEBI
Que nem tudo é possível
Que às vezes é difícil sorrir
Que a vida faz jogo duro
Mas que eu não vou desistir

ENTENDI
Que quando sofro eu aprendo
Que a dor me ensina a viver
Que a vida é um lindo caminho
No qual iremos crescer

DESCOBRI
Que não é fácil viver
Que o destino nos reserva dor
Mas que a tristeza termina
Onde começa o amor...

Maria Rita Bomfim

ANDORINHAS
Jenário de Fátima


Quando em criança, lembro das tardinhas
E da cor rubla, de tantos ocasos.
Bem lá no centro das lembranças minhas
(E aí me enchem d’água os olhos rasos!)

Me vem o voo sutil das andorinhas,
Que ao frenesi do seu bater de asas,
Cruzavam o céu em sinuosas linhas,
Fazendo evoluções no vão das casas.

Recordo ainda o que mamãe dizia;
- São as Andorinhas, aves benfazejas,
Deus as fez só pra alegrar Maria,

Que iam brincar com seu Jesus menino.
Por isso hoje moram nas igrejas,
Nas altas torres onde bate o sino.


DEPOIS DO AMOR...
Telma Moreira

Enquanto repousas
Sobre meu corpo saciado,
Percorro teu corpo suado
Com dedos leves e toques sutis
A te agradecer por ser tão feliz!

Enquanto madornas,
Sinto tua respiração ardente
E as batidas de teu coração cadente...
Então, te digo coisas que não ouves
E te falo de sonhos que nunca soubes...

Enquanto descansas...
Depois de nosso amor louco,
Forte e suave, de tudo um pouco,
Satisfeita e agradada, desperta proponho...
E no beijo te enalteço, te amo, te sonho!

Enquanto viajas,
Entre o prazer e o cansaço,
Cuido de ti e te envolvo em meus braços...
Sorrio das lágrimas, te faço poesia,
Na espera que a noite possa ver o dia...

E, enquanto tu vais...Eu fico!
Mas, não a sós...
Corpo e alma não se separam jamais!
Quando partes, me leva contigo...
E, quando não vou... ficas comigo!

MINHA NUDEZ
Mérci

É porque me despe com palavras
sem que eu ao menos perceba,
você chega e faz de mim uma alma pura.
E quando estou nua...
minha alma fica leve e esse corpo aqui flutua.
É nesse momento que vou ao seu encontro
despojada de critérios...
liberta em mistérios
sem perder o encanto do prazer...
Porque quando nua
sou única, sou minha
e às vezes me sinto sua.

VOCÊ
Ana Barreto

O seu amor é o meu ar e eu não mereço
O meu segredo, que não posso revelar
O meu pecado, que não ouso confessar
A oração, que aos bons anjos ofereço

Seu olhar é o lugar onde entardeço
É um desejo que eu tento saciar
É o enleio, que em vão tento ocultar
É um presente, um perfume, um adereço

O seu falar é uma moeda tão sem preço
Que já me compra e me põe pelo avesso
Mesmo quando o meu amor quero calar

O seu sorriso é um recado sem endereço
Antes do fim, ele já é o meu recomeço
O vago porto onde anseio ancorar...

12 de fevereiro de 2009


COLCHA DE RETALHOS
Amaro Vaz


Nós somos uma colcha de retalhos
Tantos os remendos e os enchimentos.
Tantas as preguiças e os esquecimentos
Poucos os passos e tantos os atalhos.

Nós somos, é triste, uma babel humana
O que eu falo, você não compreende.
E isso fere, isso machuca e rende
Uma dor profunda, uma dor insana.

Faltou talento, pra endireitar o rumo
Sobrou vontade, pra espremer o sumo
E nesse vai-e-vem, nenhuma herança.

Vamos levar depois de tantos anos
Porque pintamos, apenas, desenganos
No quadro triste da nossa lembrança.

COISAS DO FUTURO
Amaro Vaz


Como se fosse um pedaço de algodão
Que o vento ensina a voar com muita gala,
Como se fosse um grito que não cala
Depois que a voz machuca o coração...

Como se fosse um toque de emoção
De mão sedosa que uma criança embala,
O olhar que enfeita a luz da sedução
Depois que o calor do amor lhe fala...

Assim é a nossa vida de menino
Dá-se ao presente o lápis do destino
Para que ele pinte o nosso futuro.

Coisas de Deus. Coisas que não se explicam!
Coisas vêm, coisas vão, já outras ficam!
Por isso uns sonham pontes, outros muros.

COISAS DO AMOR
Amaro Vaz


Coisas da vida. Coisas inexplicáveis!

O amor que habita o amor se fortalece.
O amor, que é pelo amor, o amor merece
Coisas imensas. Coisas incontáveis!


Coisas de sonhos. Coisas admiráveis!
O amor um grande amor, nunca esquece.
O amor, que é pelo amor, de amor carece
Coisas benditas. Coisas confiáveis!


O amor é isso: Essas coisas todas!
Que ora são alegres. Ora são bobas!
Ora são palavrões. Ora são rezas!


O amor é isto: Um feitiço estranho!
Que na balança das perdas e ganhos
Eu descobri que vale o quanto pesa!

COISAS DE VIDA E MORTE
Amaro Vaz


Coisas de anjos. Coisas inexplicáveis
Coisas do céu. Coisas de outras vidas.
Coisas de mãe e filha. Coisas de idas
Coisas de Deus. Coisas ponderáveis.

Tudo são coisas, feitas nos escuros
Da mente humana. Nas suas viagens
O homem esquece de levar bagagens
Porque não sabe a luz após os muros.

Coisas de espíritos. Coisas de crenças
Coisas que causam brigas, desavenças
Coisas que não permitem explicações.

Por isso a morte tem tantos mistérios
Por isso vivem cheios os cemitérios
De coisas feitas com fortes emoções.

COISAS DE MÃE
Amaro Vaz


Mamãe na sua doce ingenuidade
Jamais me autorizou um passo inteiro
Não permitia os “pintos do terreiro”
A ousadia, o sonho, a liberdade.

Quando em criança, a tudo eu aceitava
Porém, o tempo me fez diferente
Deixei de ser criança, e o adolescente
Já não ouvia, o que mamãe falava.

A tudo eu respondia: Cuido eu...
Das minhas coisas, da vida que me deu
Conheço todos os caminhos a seguir.

Agora é tarde. Tristes desenganos
Perdi a minha mãe, faz quinze anos
E há quinze anos, não sei pra onde ir.

7 de fevereiro de 2009


COISAS DA PAIXÃO
Amaro Vaz


Não pede amor, quem não consegue amar
O amor não é só prazer, contentamento.
É mais que um simples acontecimento
Bem mais que a sensação de admirar.


Não pede amor, que não sabe guardar
Na mente, na alma, corpo e pensamento
Desenhos claros desse sentimento
Que nem o tempo consegue apagar.


Só pede amor, quem dá amor constante
Inteiro, sem nenhuma atenuante
Quem ama sem nenhuma restrição.


Só pede amor, quem de amor se alimenta
Porque no amor todo amor se sustenta
O resto é sonho, coisas da paixão.

CLARISSA E REBECA
Amaro Vaz


Dormiu no parto aos dezessete anos
Não teve tempo, de amamentar a cria.
Deixou no quarto uma cama vazia
Onde o silêncio vai refazer os planos.

Não tem o verde das portas e janelas
Nenhuma luz. Nenhuma esperança
Dormiu a mãe. Dormiu tua criança
Dormiu o amanhã, nos braços delas.

Dormiu a vida. A morte traiçoeira
Levou o sonho, a tua vez primeira
De encher balões, brincar de boneca.

No teu castelo de sonhos esquecidos
Agora dorme o pai, entre os vestidos
Morreu Clarissa e não viveu Rebeca.