22 de outubro de 2009

LABIRINTOS II
Amaro Vaz



A nossa vida é um louco labirinto
Nela eu me perco, nela eu me acho
Nela sou um mar e sou um riacho
E sou a consciência e sou o instinto.

Minhas andanças por suas tantas ruas
Resulta, sempre, um novo aprendizado.
Mais eu me envolvo nesse emaranhado
Mais eu conheço as maravilhas suas.

Nesse seu beijo, com gosto de hortelã
É que eu acordo em todas as manhãs
Para defender, de cada dia, o pão.

Por isso eu peço a Deus nas orações:
Preserve os labirintos das emoções
E nunca deixe me faltar a gratidão.

LABIRINTOS

Amaro Vaz




Labirintos eu andei, não tive escolha
Não havia, para mim, outra saída.
Ou cuidava, eu mesmo, da ferida
Ou a deixava crescer como a bolha.

A alma inquieta não vê dificuldade
Nas agruras de uma longa caminhada.
Ela entende, depois que for lavada
Não se deixa iludir pela saudade.

Eu sofri, compreendo... Eu sofri...
E só agora, após tudo, eu entendi
O que a dor de amor já me dizia:

“Vai em frente e não olhe para trás
Que o tempo sozinho lhe compraz,
Dor de amor não resiste à rebeldia”.

JOGO DA VIDA
Amaro vaz



Não te deixes enganar pelas aparências
Pra não seres vista, como o boi, no matadouro.
Se tu te amas, cuida primeiro de teu couro
Só é feliz, quem cumpre algumas exigências:

Mantenhas sempre um olho no peixe o outro no gato
Papai Noel é uma lenda, nunca te esqueças.
Só passam os corpos, se passam as cabeças
Manda mais, quem pode mais. Isto é um fato!

Eu vivi, cinqüenta e cinco anos, na ilusão
Acreditando, que tivesse o céu na mão
Hoje me sinto, qual umbigo de vedete.

Estou por fora de tudo. Não me conheço!
Pra sobreviver, tenho que pagar um alto preço
No jogo da vida eu estou pela bola sete.

INVERNO
Amaro Vaz



A vida é fria. Chegou o inverno!
Roupas pesadas. Muitos cobertores!
O chocolate ganha outros sabores
Vive um pulôver dentro do meu terno.

A tarde é cinza. Faz lembrar o outono!
Falta vontade de sair de casa
Sobram desejos de deitar em brasa
Fica difícil dormir. Mesmo com sono!

Bendito seja o sol de cada dia
Razão da minha grande alegria
De ter o corpo um pouco aquecido.

Bendito o vinho. Bendito o licor!
Sem eles eu não teria o teu amor
Sem teu amor, eu teria morrido.

INVASÃO DEFINITIVA
Amaro Vaz



Me faço nobre, tua casa adentro
Não pelas frestas, nem pelas janelas
Eu vou inteiro, sem as olhadelas
Nas fechaduras do meu pensamento.

Fui convidado, em nome da amizade
Um sentimento uno, entre os seres
Que impõe alguns direitos e deveres
Pra que não cresça nela a falsidade.

Entrei sorrindo, pela porta da frente
Depois que te vi, alegre e sorridente
Braços abertos, pronta pro abraço.

E o velho amigo, coisa mais singela
Que antes usava as frestas da janela
Agora tem na tua casa um espaço.

18 de outubro de 2009

INSPIRAÇÃO
Amaro Vaz


Eu, últimamente, encontro inspiração
Até na chuva que faz o dia escuro.
Nos vôos que me levam além do muro
Num grão de areia perdido no chão.

Me inspiro no teu sim, num simples não
Num beijo ousado, num olhar impuro
No colo que me prometes ser seguro
Num simples adeus, um acenar de mão.

Encontro inspiração, quando o carteiro
Me deixa esperando o dia inteiro
Encontro inspiração até na dor.

Eu, ultimamente, encontro inspiração
Porque fizeste no meu coração
Um ninho de carícias, de amor.

inSANIDADE
Amaro Vaz


Eu desatei o laço, acertei o passo
Fui passageiro de outras caminhadas.
Na mala eu carreguei todos os nadas
Que um dia deram vida ao meu fracasso.

Nenhuma lágrima, sequer um simples traço
De cicatrizes abertas, mal curadas.
Eu mesmo desenhei minhas estradas
Longas, desertas, tristes, descuidadas.

Como entender a mente de quem busca
A luz que faz o dia, a luz que ofusca
Se o brilho tem efeito transitório?

Não há nenhuma dúvida fatal
Você sempre ouvirá: Eu sou normal...
De um louco preso em um sanatório.
ILUSÕES
Amaro Vaz


É tão distante a ausência que nos une
Tão insensato o silêncio que nos fala
Tão sem sentido a paz que o peito cala
Tão triste a dor que nos machuca e pune.

Que a vida em nós apenas se resume
Numa cadeira vazia em plena sala.
Na voz que na garganta morre, entala
O choro corriqueiro, de costume.

Essa distância é mais que um sofrimento
É treva, escuridão, triste lamento
É uma lágrima que desce angustiada.

Para fazer em nós uma tempestade
Ao nos mostrar a triste realidade
De uma mentira que nos leva ao nada.
ILUSÃO DE ÓTICA
Amaro Vaz


Foi coisa de pele, de identidade.
Encheu-me a vida de inspiração.
Trouxe os meus pés de volta ao velho chão
Aos meus escuros trouxe a claridade.

Foi como um corte de faca afiada
Rasgou profundo meu corpo franzino
Mais parecia obra do destino
Como a chuva, que traz a enxurrada.

Virei seu ócio, virei seu passatempo!
O seu brinquedo, o seu contentamento.
Marido, amigo, confidente, irmão.

Tudo acabou. A culpada foi ela!
Ao insistir, em achar, que eu fosse dela
Somente um bicho de estimação.
ILUSÃO
Amaro Vaz


Ilusão é cantiga de ninar
Faz dormir o pensamento consciente.
Muda as cores, mostra tudo diferente
Que é difícil este laço desatar.

Se nos faz rir, também, nos faz chorar
Age sem medo e tão inconseqüente.
Que o iludido, se vê de repente
Com os pés no chão e a mente no ar.

Eu me iludi, depois de muitos anos
Fiz coisas loucas, fiz todos os planos
Cai de quatro, cai de maduro.

Quebrei a cara, conheci o chão.
Perdi o rumo. Perdi a direção!
E só parei, quando bati num muro.

13 de outubro de 2009


HUMANAS FUGAS
Amaro Vaz


Uma criança pura e inocente
Parada no sinal me estende a mão
Como se nos olhos eu trouxesse o pão
Para matar-lhe a fome simplesmente.

Levanto o vidro, escondo o meu rosto
Pra não rever o filme do passado
Ali... naquele posto abandonado
Ficava eu na chuva e ao sol exposto.

Eu fui um malabarista nos sinais
Entregador de pizza e de jornais
Fui, ainda, um jovem delinqüente.

Hoje eu sou um velho rabugento
Por hora, preso no congestionamento
De um passado atroz e humilhante.

HOSPÍCIO II
Amaro Vaz


Não enlouqueça mais, linda menina
Que a loucura é muito traiçoeira
E eu preciso, que me venha inteira
Como um anjo de asa pequenina.

Não enlouqueça o verso, mesmo lindo
Ele me assusta, não posso perdê-la.
Depois que descobri, que é a estrela
Que no meu céu eu vejo reluzindo.

Não enlouqueça, fuja deste hospício
Vem despencar de mim, sou precipício
Sou pára-quedas do teu voar mais lindo.

Não enlouqueça, porque amanheceu
E aquele sonho, que era só meu
Agora é nosso, por isso estou sorrindo.

HOMEMNAGEM
Amaro Vaz


Não cabe o sol nas lágrimas da chuva
Não cabe o beijo em boca delinqüente.
Não pode a maçã, repentinamente
Arroxear-se, pra sentir-se uva.

Não pode o homem, mudar o acontecido
Não pode o fruto, do galho, se ausentar.
Não cabe o riso, se deixar levar
Pela imponência, se fazer vencido.

Não pode nada, que não seja lícito
Porque na lei de Deus está explícito:
Que o homem peca por puro capricho.

O livre arbítrio é uma encruzilhada
Porque a vida corre noutra estrada
Onde o homem quer sentir-se um bicho.


HIPÓCRITA ILUSÃO
Amaro Vaz

Que dor é esta, que teima em se fazer
Presente o tempo inteiro no meu dia?
Que rouba a paz, acaba com a alegria
E toma conta de todo o meu ser?

É dor estranha. É dor que não se ausenta
Que não respeita o triste sentimento.
Que não permite a paz do esquecimento
Pois novos sofrimentos, ela sustenta.

É dor de amor, portanto não tem cura
Transforma em besta humana a criatura
Que, infantilmente, se deixou levar.

Pela ilusão hipócrita e insensível
Pelo brilho translúcido, irresistível
De um lindo sorriso, de um doce olhar.


GUERRA E PAZ
Amaro Vaz


Não é fazendo guerra que a paz
Irá fazer-se forte entre a gente
Nem tudo é uma questão de ir em frente
Às vezes é necessário um passo atrás.

Se você quer bem feito, pega e faz
Assim a vida ensina ao exigente.
Quem quer o fruto, cuida da semente
A árvore, a natureza amiga traz.

Eu não quero virar seu conselheiro
É bem mais porco o dono do chiqueiro
Que o porco que passeia sobre o estrume.

Portanto, me permita outra escolha
Você plantou, bem-vinda: Venha e colha
O fruto que nasceu do seu ciúme.