10 de fevereiro de 2010


LIVRE ARBÍTRIO
Amaro Vaz


Quer o amor, dormir em outros braços
Pra acordar, cansado em novas camas.
Pra se aquecer feliz em outras chamas
Quer o amor, a busca de outros passos.

Quer o amor, dormir em outros corpos
Sentir o beijo das bocas mais vulgares.
Quer o amor, estar em todos os lugares
Para acordar inteiro em outros portos.

Quer o amor, sentir-se livre e solto
Porque se acha santo e vê-se envolto
No imune manto da plena liberdade.

Ele não sabe, que em bem pouco tempo
Será um amor, abandonado ao relento
Sujeito à chuva, sujeito à tempestade.

EMBOSCADA
Amaro Vaz


Como a coruja que se faz de morta
Para iludir a presa descuidada
Vejo você sentada em minha porta
Dizendo-se perdida, apaixonada.

Sei que você, comigo não se importa
Que sempre me prepara uma emboscada.
Que só procura o que lhe apraz, conforta
Como se eu fosse tudo, fosse um nada.

Não quero mais ouvir os seus lamentos
Não vão me convencer seus argumentos
Do nosso amor não guardo mais os traços.

Pode voar em paz, pode ir com Deus
Que em mim não cabem mais os sonhos seus
Já sou senhor seguro dos meus passos.
COISAS DA SAUDADE
Amaro Vaz

Amanheci disperso, displicente
Distante dos meus hábitos normais.
Não quis ler as noticias dos jornais.
Não quis ver nada, que lembrasse a gente.

Uma por uma eu pus em minha frente
As coisas dos meus dias mais banais.
Algumas pareciam naturais
Já outras pareciam bem diferentes.

Sei que o passado deixa em sua estrada
Desenhos obscuros, um quase nada
Se a mente dorme à luz do esquecimento.

Assim amanheci: longe de mim!
Quando assustei, estava perto o fim
Só de lembranças vivia o sentimento.

BRINCADEIRA DE RODA
Amaro Vaz


Diz a canção de uma nova novela:
Como se fora brincadeira de roda...
Canção antiga é a última moda
Nada de novo a arte nos revela.

De onde nada vem, tudo se espera
É tanta coisa ruim amigo, é foda!
A mídia nem ai... Não se incomoda
Latinos são os reis da nova era.

Hoje ao cantarolar Chico Buarque
O coração sentiu um, quase ataque
Por causa de um poema forte e trágico.

Caiu da construção e na calçada
Morreu sem terminar sua jornada
Na contramão atrapalhando o tráfego.

A COR DO AMOR
Amaro Vaz


Em tudo ela mexe. Tudo ela consegue
Quando ordena, eu simplesmente obedeço.
Se ela briga, é com razão sempre, mereço
Vivo tentando lhe vender gato por lebre.

Volto pra casa, cansado do trabalho
Ela sorri feliz e lá de dentro grita:
Estava sem fome, veio cheia a marmita
Já sei... De novo eu abusei do sal, do alho!

Assim vivemos constantes brincadeiras
São nossas coisas completas, verdadeiras
A falsidade não habita entre nós.

Somos frutos da paz, por isso o nosso amor
Além de muita alegria e uma linda cor
Tem um só canto, e tem apenas uma voz.